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sábado, 13 de novembro de 2010

A prisão de Jesus - João (18, 1 – 11), Mateus (26, 47 – 56), Lucas (22, 47 – 53) e Marcos (14, 43 – 52).



“Então disse Jesus aos doze: ‘Quereis vós também retirar-vos?’ Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: ‘Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna’.” João 6, 67s.
Muitas pessoas me perguntam, por que Jesus se oferece como alimento? Esta é uma pergunta muito complicada de se responder e saber a resposta a este mistério é uma coisa, explicar é um pouquinho mais difícil.
Divergências de opiniões fazem parte do ser humano, entre os discípulos elas também aconteciam e em todos os aspectos, uns acreditavam que Deus viria e colocaria um ponto final nas injustiças do mundo, está linha é a de Judas Iscariotes. Outros acreditavam que Deus viria por um ponto final mas, poderíamos dar uma ajudinha com as nossas próprias mãos, está linha era a de Pedro, e a prova disso é que Pedro andava armado com uma espada em sua cintura.
Jesus não era de nenhuma destas linhas, em seu tempo, quando caminhava entre nós, Ele ensinou que Deus viria acabar definitivamente com a injustiça e que podemos ajudar sim mas, com o amor, o perdão e a graça, e não com a espada e nem tão pouco com os braços cruzados.
Todo mistério nos conduz a uma investigação e é em formato de investigação que esta reflexão teológica será conduzida. As testemunhas serão os próprios evangelistas com os seus textos.
Os evangelistas são quatro, cada um tem um ponto de vista pessoal e se atentam a detalhes que escapam a percepção dos outros, quando desejamos fazer uma leitura mais aprofundada sobre uma determinada passagem, muitas vezes temos que ler a mesma passagem nos outros evangelhos,  para isso fiz uma montagem, pouco ortodoxa, juntei parte do texto que achei relevante e os colori, cada qual com a cor que estabeleci para o seu respectivo evangelista. A quem preferir leia os quatro evangelhos na integra.
 A prisão de Jesus
João 18, 1 – 11, Mateus 26, 47 – 56, Lucas 22, 47 – 53, Marcos 14, 43 – 52
 Tendo dito isso, Jesus foi com os seus discípulos para o outro lado da torrente do Cedron. Havia ali um jardim, onde Jesus entrou com seus discípulos. Ora, Judas, que o traía, conhecia também esse lugar porque, freqüentemente, Jesus e seus discípulos aí se reuniam. Eis que veio Judas, um dos Doze acompanhado de grande multidão com espadas e paus, da parte dos chefes dos sacerdotes e dos anciãos do povo. Seu traidor dera-lhes um sinal, dizendo: “É aquele que eu beijar; prendei-o”. E logo, aproximando-se de Jesus disse: “ Salve, Rabi!” e o beijou. Jesus respondeu-lhe: “Amigo, para que estás aqui? Então, avançando, deitaram a mão em Jesus e o prenderam.
Vendo o que estava para acontecer, os que se achavam com ele disseram-lhe: “Senhor, e se ferirmos à espada?” E um deles feriu o servo do Sumo Sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. O nome do servo era Malco. Jesus, porém, tomou a palavra e disse: “Deixai! Basta!” E tocando-lhe a orelha, curou-o. Mas Jesus lhe disse: “Guarda a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam a espada pela espada perecerão. Ou pensas tu que eu não poderia apelar para o meu pai, a fim de que ele pusesse à minha disposição, agora mesmo, mais de Doze legiões de anjos? Deixarei eu de beber o cálice que o Pai me deu? E como se cumpririam então as Escrituras, segundo as quais isso deve acontecer?” E naquela hora, disse Jesus às multidões: “Como ao ladrão, saístes para prender-me com espadas e paus! Eu sentava no Templo ensinando todos os dias e não me prendestes”. Tudo isso, porém, aconteceu para se cumprirem os escritos dos profetas: “Não perdi nenhum dos que me destes”. Então todos os discípulos, abandonando-o, fugiram. Um jovem o seguia, e sua roupa era só um lençol enrolado no corpo. E foram agarrá-lo. Ele, porém, deixando o lençol, fugiu nu.
Para entendermos melhor a simbologia deste texto, temos que recorrer ao antigo testamento, pois, aqui existem muitas relações entre eles. Estas relações são muito importantes e elas pautam toda a vida de Jesus porque é nele e para Ele que todos os textos sagrados apontam.
No Êxodo, Moisés e o povo na ultima praga do Egito, onde o cordeiro é oferecido para livrar o povo hebreu do anjo da morte que passaria e tiraria a vida de cada primogênito do Egito, e quem comesse da carne do cordeiro seria salvo. Na pessoa de Jesus, o primogênito e o cordeiro estão presentes e a morte não terá vez sobre Ele.
Outra relação com o antigo testamento da passagem que aqui estamos estudando, uns poucos versículos atrás, Jesus diz ser a Videira (Arvore da Vida) e Jesus está em um jardim, estas palavras chaves nos remetem a Genesis e o Jardim do Éden onde a Arvore da Vida Eterna se encontra no meio deste jardim. Deste jardim fomos expulsos por causa do pecado e aqui seremos resgatados e reinseridos ao seio do Criador, pois, Jesus aqui é a Arvore da Vida, É Ele que se oferece como alimento e é Ele quem diz: “...Tomai isso é o meu corpo...” (Marcos 14, 22). O contra ponto à esta afirmação está nas palavras de Deus Criador em Genesis: “Depois disse Iahweh Deus: ‘Se o homem já é como um de nós, versado no bem e no mal, que ele não estenda a mão e colha também da árvore da vida, e coma e viva para sempre!’”.  (GN 38, 22).
O que está em jogo aqui é a quebra da Aliança de Deus com a humanidade e o restabelecimento da mesma. Aqui está Nova e Eterna Aliança. Jesus é em tudo semelhante ao homem, menos no pecado, Ele é o novo Adão, é Ele quem vence o pecado e assim vence também a morte.
A prisão de Jesus é a continuação da Ceia Pascal, aqui estão presentes todos os elementos de um ritual de sacrifício, o sacerdote e sua investidura, a comunidade, a vitima da expiação pelos pecados e também as ferramentas necessárias para um ritual de sacrifício.
Jesus não é o cordeiro da expiação escolhido pelos homens e sim o Cordeiro imaculado escolhido por Deus e apontado pelos profetas. É Ele quem se oferece ao sacrifício, Ele está em um jardim feito cordeiro a espera dos outros elementos desta Eucaristia . Aqui é chegada a hora em que Jesus se apresenta como Cordeiro do Sacrifício quando diz: “Eu sentava no Templo ensinando todos os dias e não me prendestes”. Os sacrifícios eram realizados dentro do Templo e em um altar diante de toda a comunidade.
Outros elementos que tem relação com os antigos textos são: de investidura sacerdotal, no meio da multidão não se encontra o sumo sacerdote do Templo, pois, Jesus é quem está sendo investido desta função. O sangue e a orelha direita são outros elementos da consagração de investidura encontrado em Êxodo (29, 20), onde o sangue é colocado na orelha direita do sacerdote (Aarão e seus filhos),  outro acontecimento ligado a Aarão e seu sacerdócio está em Números (20, 23 – 29), onde ele, depois de morto é despido por Moisés que, obedecendo as ordens de Deus, passa as vestes de Aarão para Eleazar, filho de Aarão investindo-o e o consagrando como Sumo Sacerdote, aqui as vestes também são simbolicamente retiradas no momento em que o jovem que vestia apenas um lençol, que em sua fuga fica nu, deixando apenas as suas vestes. Simbolicamente seria a Investidura de Jesus como definitivo Sumo Sacerdote.
Quanto às armas, o que nos chama atenção é que elas também são apresentadas em rituais de sacrifício, a adaga (espada) era um instrumento necessário para imolar o animal que era oferecido em expiação dos pecados da comunidade. No texto em que Abraão irá sacrificar Isac a adaga também está presente. Em um exército a apresentação das armas faz parte de um ritual, elas são apresentadas momentos antes de saírem em marcha para a guerra, onde os soldados, de certa forma estariam indo, ou dispostos a ir, para o sacrifico.
A batalha que tem seu inicio aqui, não é uma batalha como acontece em disputas, ou guerras, está batalha é contra a morte, ela é que será vencida para todo sempre. Para esta batalha Jesus não precisa de soldados, nem anjos, nem espadas ou paus, para está batalha Jesus leva consigo nossos pecados e toda a pureza do amor do seu Ser. É o justo pelo injusto! O puro pelo impuro! A podridão dos fatos mais obscuros de nossa existência como humanos, confrontadas com a misericórdia que somente o infinito amor de Deus poderia redimir-nos.
Tudo isso é a nova e eterna Aliança entre Deus e a humanidade, a derrota da morte, o restabelecimento do Éden. Jesus é o Novo Adão, ele é a chave e o Caminho que nos levará ao reencontro com Deus e a sua Justiça.
Quando a humanidade entender que os seus atuais caminhos e modelos políticos, sociais e religiosos, só nos conduzem à injustiça! Quando os “poderosos” entenderem que as mesmas conseqüências que ameaçam os nossos descendentes, também ameaçam os descendentes dos mesmos! No dia em que a humanidade aprender a olhar para os Ensinamentos e Caminhos do mestre Jesus e entender que somente nele há Justiça, ai sim, somente ai nossos filhos e netos poderão viver um mundo melhor.
Enquanto isso não acontece, continuaremos nos submetendo às instituições falidas que ficam se reinventando cada vez mais na tentativa desesperada de manterem-se no podre e falso poder. Enquanto não abrirmos os nossos narizes para sentir o cheiro da podridão que emana destas fabricas de ignorância em massa, continuaremos vivendo este inferno de fezes que cerca nossa existência e ameaça a nossa descendência.
Gostaria muito de ainda estar neste mundo para ver a queda desta podridão. O perigo é que a chance de que ela apenas troque de mão ainda é muito grande.

Quadro: Carlos Araujo - "Jesus, a Videira" e "O Beijo de Judas" Bíblia - Citações"