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domingo, 20 de junho de 2010

Cura de cego de nascença. João 9, 1 - 41.

Nos meus dias de faculdade, aprendi muitas coisas, pois, tive grandes mestres os quais terão a minha eterna admiração. Muito do que aprendi eu carrego comigo e partilho sempre que possível, e este texto do “cego de nascença” é um destes casos. Em uma das minhas aulas meu professor dizia o quanto era importante perceber as diferentes movimentações dos elementos nos textos.
Recentemente escrevi um texto do “endemoninhado geraseno” e a movimentação dos acontecimentos eram semelhantes a uma explosão, ela percorria para todos os lados e de uma maneira ou de outra atingia a todos. De certa forma é sempre assim nos textos bíblicos. Mas nesta analise primeiramente vamos observar os movimentos que acontecem com este homem que nasceu cego.
Ele é judeu e caminha às margens de sua religião, por ser um pecador sem perdão e sem saber o que fez ou o que fizeram.
Cada ciência tem uma linguagem própria e o termo para isso é “Epistemologia”, e a palavra “pecado” para um teólogo significa o mesmo que a palavra “erro” para um sociólogo. Tenha isso em mente, ao ler o texto abaixo, acredito que assim ficará mais fácil a compreensão do mesmo, pois, trata-se de um problema de ordem social.
João (9, 1 – 41) Cura de cego de NascençaAo passar, Ele viu um homem, cego de nascença. Seus discípulos lhe perguntaram: “Rabi, quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse cego?” Jesus respondeu: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas é para que nele sejam manifestadas as obras de Deus.
Enquanto é dia, temos de realizar as obras daquele que me enviou; vem a noite, quando ninguém pode trabalhar .
Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo”.
Tendo dito isso, cuspiu na terra, fez lama com a saliva, aplicou-a sobre os olhos do cego e lhe disse: “Vai lavar-te na piscina de Siloé – que quer dizer ‘Enviado’”. O cego foi, lavou-se e voltou vendo claro.
Os vizinhos, então, e os que estavam acostumados a vê-lo antes, porque era mendigo, diziam: “Não é esse que ficava sentado a mendigar?” Alguns diziam: “É ele”. Diziam outros: “Não, mas alguém parecido com ele”. Ele, porém, dizia: “Sou eu mesmo”. Perguntaram-lhe, então: “Como se abriram teus olhos?” Respondeu: “O homem chamado Jesus fez lama, aplicou-ma nos olhos e me disse: ‘Vai a Siloé e lava-te’. Fui, lavei-me e recobrei a vista”. Disseram-lhe: “Onde está Ele? Disse:  “Não sei”.
Conduziram o que fora cego aos fariseus. Ora, era sábado o dia em que Jesus fizera lama e lhe abriram os olhos. Os fariseus perguntaram-lhe novamente como tinha recobrado a vista. Respondeu-lhes: “Ele aplicou-me lama nos olhos, lavei-me e vejo”. Diziam, então, alguns dos fariseus: “Esse homem não vem de Deus, porque não guarda o sábado”. Outros diziam: “Como pode um homem pecador realizar tais sinais?” E havia cisão entre eles. De novo disseram ao cego: “Que dizes de quem te abriu os olhos?” Respondeu: “É profeta”.
Os judeus não creram que ele fora cego enquanto não chamaram os pais do que recuperara a vista e perguntaram-lhes: “Este é vosso filho, que dizeis ter nascido cego? Como é que agora ele vê?” Seus pais então responderam: “Sabemos que este é nosso filho e que nasceu cego. Mas como agora ele vê não sabemos; ou que lhe abriu os olhos não sabemos. Interrogai-o. Ele tem idade. Ele mesmo se explicará”. Seus pais assim disseram por medo dos judeus, pois os judeus já tinham combinado que, se alguém reconhecesse Jesus como Cristo, seria expulso da sinagoga. Por isso, seus pais disseram: “Ele já tem idade; interrogai-o”.
Chamaram, então, a segunda vez, o homem que fora cego e lhe disseram: “Dá glória a Deus! Sabemos que esse homem é pecador”. Respondeu ele: “Se é pecador, não sei. Uma coisa eu sei: é que eu e era cego e agora vejo”.
Disseram-lhe, então: “Que te fez ele? Como te abriu os olhos?” Respondeu-lhes: “Já vos disse e não ouvistes. Por que quereis ouvir novamente? Por acaso quereis também tornar-vos seus discípulos?” Injuriaram-no e disseram: “Tu, sim, és seu discípulo; nós somos discípulos de Moisés. Sabemos que Deus falou a Moisés; mas esse, não sabemos de onde é”. Respondeu-lhes o homem: “Isso é espantoso: vós não sabeis de onde ele é e, no entanto, abriu-me os olhos! Sabemos que Deus não ouve os pecadores; mas, se alguém é religioso e faz a sua vontade, a este ele escuta. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos de cego de nascença. Se esse homem não viesse de Deus, nada poderia fazer”. Responderam-lhe: “Tu nasceste todo em pecado e nos ensinas?” E o expulsaram.
Jesus ouviu dizer que o haviam expulsado. Encontrando-o, disse-lhe: “Crês no filho do homem?” Respondeu ele: “Quem é, Senhor, para que eu nele creia?” Jesus lhe disse: “Tu o vês, é quem fala contigo”. Exclamou ele: “Creio, Senhor! E prostrou-se diante dele.
Então disse Jesus: “Para um discernimento é que vim a esse mundo: para que os que não vêem , vejam, e os que vêem, tornem-se cegos”.
Alguns fariseus, que se achavam com ele, ouviram isso e lhe disseram: “Acaso também nós somos cegos?”
Respondeu-lhes Jesus: “Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas dizeis: ‘Nós vemos!’ Vosso pecado permanece.”.
João nos apresenta um grande sinal: “... é para que nele sejam manifestadas as obras de Deus.”, um milagre nunca realizado antes, aquele homem cego em momento algum pediu para que Jesus o curasse, mesmo porque ele não tinha esperança que Jesus pudesse fazê-lo, pois, na história daquele povo, nuca havia acontecido de um cego de nascença vir a enxergar, além disto ele aprendeu de seus pais que, estava pagando pelos pecados de seus ancestrais e o preço era passar toda a sua vida como cego - aqui temos o conformismo, ausência de fé. O que conta aqui é apenas a vontade de Deus apontando para Jesus.
Geralmente quando Jesus realiza algum milagre de cura suas palavras são: “Tua fé te salvou, esteja curado”, são dois movimentos: a cura e a salvação. Esta fórmula não acontece nesta passagem, porque não houve a procura do necessitado, aquele homem estava no Caminho de Jesus, como alguém que fora colocado ali, como quem fora colocado pela mão de Deus - “Ao passar, Ele viu um homem, cego de nascença.”. Seria o equivalente a dizer que: “era necessário que isso acontecesse” que é o equivalente ao dito por Jesus: “mas é para que nele sejam manifestadas as obras de Deus.”.
Olhando isoladamente para o cego de nascença iremos perceber em suas respostas uma conversão contínua que inicia com um conformismo mórbido que vai se transformando até o seu clímax, aos pés de Jesus, para percebermos melhor vou transcreva-las abaixo isoladamente:
(9, 12) “Onde está Ele? Disse:  “Não sei”;
(9, 17) “Que dizes de quem te abriu os olhos?” Respondeu: “É profeta”;
(9, 24 - 25) “Sabemos que este homem é pecador”. Respondeu ele: “Se é pecador, não sei. Uma coisa eu sei: é que eu e era cego e agora vejo”.
(9, 26 - 27) “Que te fez ele? Como te abriu os olhos?” Respondeu-lhes: “Já vos disse e não ouvistes. Por que quereis ouvir novamente? Por acaso quereis também tornar-vos seus discípulos?”;
(9, 35 - 38) “Crês no filho do homem?” Respondeu ele: “Quem é, Senhor, para que eu nele creia?” Jesus lhe disse: “Tu o vês, é quem fala contigo”. Exclamou ele: “Creio, Senhor! E prostrou-se diante dele.".
Se percebermos, as suas resposta vão nos mostrando que a conversão daquele homem, parte de um “não sei”,  passa por um “é profeta”, se transforma em “mestre”  (“quereis também tornar-vos seus discípulos?”) e finaliza em um sonoro “Creio, Senhor”. E aquele homem se da conta da divindade de Jesus e ele se prostra diante dos seus pés.
Esta passagem é muito rica em questões sociopolíticas e religiosas, aqui tudo fica ao inverso, os verdadeiros cegos aqui são os fariseus fundamentalistas, e estes sim pagam pelos erros dos seus ancestrais, é o preço da ignorância nós sempre pagamos muito caro e depende de nós impedirmos que este ciclo vicioso se repita com as nossas futuras gerações.
Idéias fundamentalistas sempre existiram e elas são tão perigosas que Jesus afirma que a sua vinda foi para ajudar-nos a discernir, ou seja, para enxergarmos. Textos como: Êxodo (20, 5ss e 34, 7ss), Deuteronômio (5, 9 – 10) “Não te prostrarás diante desses deuses nem os servirás, porque eu, Iahweh teu Deus, sou um Deus ciumento, que puno a iniqüidade dos pais sobre os filhos, até a terceira e a quarta geração dos que me odeiam, mas que também ajo com amor até a milésima geração para com aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.”. Quando em nossa ignorância, ensinamos uma idéia falsa de Deus (que é o mesmo que apresentar falsos deuses), esta idéia segue em nossas gerações, e é este o castigo, este é o preço. Quando assim o fazemos nós cegamos as nossas gerações, (cegos guiando cegos). As exatas palavras de Jesus são: “Para um discernimento é que vim a esse mundo: para que os que não vêem , vejam, e os que vêem, tornem-se cegos” No Aurélio a definição para “discernimento” é: s.m. Ação ou faculdade de discernir. / Juízo, entendimento, critério.
Qual é o critério que nós utilizamos, o de ouvir sem o menor questionamento tudo o que o, padre, pastor, bispo, sacerdote, pai de santo, ministro ou seja lá quem for, disser? Além disso tem um outro problema, eles estão ensinando para os nossos filhos. Não quero generalizar e nem dizer que a culpa é toda dos acima mencionados, mesmo porque, esta culpa é nossa o que nos torna também cegos, e neste ciclo o castigo continua como uma maldição.
No entendimento dos antigos isto é um castigo de Deus, e Jesus está aqui nos mostrando que este castigo é fruto da nossa falta de discernimento, aceitar passiva e pacatamente. Então somos nós castigando a nós mesmos e Deus não tem nada com isso. 
Se você disser a Jesus que Ele é o seu rei. Com certeza a próxima pergunta será: Por que? Respostas como: Porque minha mãe, ou o bispo, me disse. Esta resposta não será aceita, porque é você e o seu coração é que tem que elegê-lo.
Temos que ter discernimento, os fariseus representavam o poder religioso e no entanto quem não tinha entendimento ou critério eram eles, por causa de falsos ensinamentos como: “Deus castiga”, “a ira de Deus cairá sobre vocês”, “você paga pelo pecado dos seus pais”, entre muitos outros.
Aqui em João, Jesus está nos dizendo que: Todo o peso do que cai sobre nós é causa e efeito daquilo que fizemos ou permitimos (voto, lideres, poder religioso, guerras, terrorismos de todos os tipos, fome, violência ...), as pessoas poderosas só o são porque nós consentimos. O que teria feito, Stalin e Hitler, sem apoio. E o massacre do povo Armênio ou Ruanda, o Apartheid, a miséria de Uganda, Afeganistão e o Paquistão, isso tudo não teria acontecido se as pessoas não tivessem apoiado ou passado uma “vista grossa” – o que dá no mesmo. Demos as costas para tudo isso, fingimos que não temos nada com isso, cegos é o que somos, em um momento ou em outro, sempre somos.
Deus é amoroso, justo e verdadeiro, e este verdadeiro Deus é que devemos entender, temos que discernir o certo e o errado e somente isso já nos é complicado até os dias de hoje!
A conclusão para esta passagem e reflexão, são as próprias palavras de Jesus: João (9, 39 – 41) Então disse Jesus: “Para um discernimento é que vim a este mundo: para os que não vêem, vejam, e os que vêem, tornem-se cegos”.
Alguns fariseus, que se achavam com ele, ouviram isso e lhe disseram: “Acaso também nós somos cegos?”
Respondeu-lhes Jesus: “Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas dizeis: ‘Nós vemos!’ Vosso pecado permanece,”.


Seja lá como for a sua conversão, cuide para que ela seja alicerçada no discernimento e também continuamente amadurecida.


Quadro (detalhe): Carlos Araujo - "Cura de cego de nascença" Bíblia - Citações"

terça-feira, 8 de junho de 2010

O Endemoninhado geraseno, Pastores de porcos? Lucas (8, 4 - 39)




Nos dias de hoje quantos entre nós estão a procura de respostas para seus desapontamentos com toda realidade que nos cerca? Quantos andam à margem de nossa sociedade cada vez mais desumana? E quantos vislumbram alguma esperança?
 Assim é a história do geraseno, ou gadareno que afinal encontrou em Jesus a resposta às suas angustias.

Como evangelista Lucas quer nos dizer alguma coisa e todo texto deve ter uma introdução, um conteúdo e por fim um desfecho conclusivo e em "teologues" a palavra para isso é “perícope”.

Esta passagem trata de questões estruturais como, família, sociedade, cultura e religião e para um assunto tão abrangente é necessário identificá-lo (8, 4 - 39) - mais a frente vou transcrevê-las, para os que não conhecem esta passagem possam acompanhar a reflexão.
Na sequência destes textos temos: a “Parábola do semeador e sua explicação”, “Como receber e transmitir o ensinamento de Jesus”, “Os verdadeiros parentes de Jesus”, “Tempestade acalmada” e vamos utilizar estes textos como introdução ao geraseno, não querendo aqui fazer um grande aprofundamento destas passagens que o antecedem, mesmo por que, seria necessário escrever um livro para isso.
Estas passagens nos levam a um desfecho à muito esquecido por grande parte das religiões que se dizem verdadeiramente cristãs e infelizmente a minha se encontra neste grupo, mas não se iluda, individualmente nós também, de uma maneira ou de outra, caímos neste mesmo erro.
Para ler estes textos bíblicos que se seguem abaixo é importante ter em mente a palavra “semente”, ela irá nos ajudar muito a chegarmos a uma conclusão.

"Parábola do semeador – Reunindo-se numerosa multidão que de cada cidade vinha até Ele, Jesus falou em parábola: “O semeador saiu a semear sua semente. Ao semeá-la, uma parte da semente caiu ao longo do caminho, foi pisada e as aves do céu a comeram. Outra parte caiu sobre a pedra e, tendo germinado, secou por falta de umidade. Outra caiu no meio dos espinhos, e os espinhos, nascendo com ela, abafaram-na. Outra parte, finalmente, caiu em terra fértil, germinou e deu fruto ao cêntuplo”. E dizendo isso, exclamava: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!”.

Por que Jesus fala em parábolas – Seus discípulos perguntavam-lhe que significaria tal parábola. Ele respondeu: “A vós foi dado conhecer os mistérios do Reino de Deus; aos outros, porém, em parábolas, a fim de que vejam sem ver e ouçam sem entender.

Explicação da parábola do semeador – Eis, pois, o que significa essa parábola: A semente é a Palavra de Deus. Os que estão ao longo do caminho são os que ouvem, nas depois vem o diabo e arrebata-lhes a Palavra do coração, para que não creiam e não sejam salvos. Os que estão sobre a pedra são os que, ao ouvirem, acolhem a Palavra com alegria, mas não tem raízes, pois crêem apenas por um momento e na hora da tentação desistem. Aquilo que caiu nos espinhos são os que ouvem, mas, caminhando sob o peso dos cuidados, da riqueza e dos prazeres da vida, ficam sufocados e não chegam à maturidade. O que está em terra boa são os que, tendo ouvido a Palavra com coração nobre e generoso, conservam-na e produzem fruto pela perseverança.

Como receber e transmitir o ensinamento de Jesus – Ninguém acende uma lâmpada para a cobrir com um recipiente, nem para colocá-la debaixo da cama; ao contrário, coloca-a num candelabro, para que aqueles que entram vejam a luz. Pois nada há de oculto que não se torne manifesto, e nada em segredo que não seja conhecido e venha à luz do dia. Cuida, portanto, do modo como ouvis! Pois ao que tem, será dado; e ao que não tem, mesmo o que pensa ter, lhe será tirado”.

Os verdadeiros parentes de Jesus – Sua mãe e seus irmãos chegaram até ele, mas não podiam abordá-lo por causa da multidão. Avisaram-no então: “Tua mãe e teus irmãos estão lá fora, querendo te ver”. Mas ele respondeu: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”.

A tempestade acalmada – Certo dia, ele subiu a um barco com os discípulos e disse-lhes: “Passemos à outra margem do lago”. E fizeram-se ao largo. Enquanto navegavam , ele adormeceu. Desabou então uma tempestade de vento no lago; o barco se enchia de água e eles corriam perigo. Aproximando-se dele, despertaram-no dizendo: “Mestre, mestre, perecemos!” Ele, porém, levantando-se, conjurou severamente o vento e o tumulto das ondas; apaziguaram-se e houve bonança. Disse-lhes então: "Onde está a vossa fé?”.
Com medo e espantados, eles diziam entre si: “Quem é este, que manda até nos ventos e nas ondas, e eles lhe obedecem?”.

O endemoninhado geraseno (gergesenos ou gadarenos) - Navegaram em direção à região dos gerasenos, que está do lado contrario da Galiléia. Ao pisarem terra firme, veio ao seu encontro um homem da cidade, possesso de demônios. Havia muito que andava sem roupas e não habitava em casa alguma, mas em sepulturas. 
Logo que viu a Jesus começou a gritar, caiu-lhe aos pés e disse em alta voz: “Que queres de mim, Jesus, filho de Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes”. Jesus, com efeito, ordenava ao espírito impuro que saísse do homem, pois se apossava dele com freqüência. Para guardá-lo, prendiam-no com grilhões e algemas, mas ele arrebentava as correntes e era impelido pelo demônio para os lugares desertos. Jesus perguntou-lhe: “Qual é o teu nome? – “Legião”, respondeu, porque muitos demônios haviam entrado nele. E rogavam-lhe que não os mandasse ir para o abismo.”
Ora havia ali, pastando na montanha, numerosa manada de porcos. Os demônios rogavam que Jesus lhes permitisse entrar nos porcos. E ele o permitiu. Os demônios então saíram do homem, entraram nos porcos e a manada se arrojou pelo precipício, dentro do lago, e se afogou.
Vendo o acontecido, os que apascentavam os porcos fugiram, contando o fato na cidade e pelos campos. As pessoas então saíram para ver o que acontecera. Foram até Jesus e encontraram o homem, do qual haviam saído os demônios, sentado aos pés de Jesus, vestido e em são juízo. E ficaram com medo.
As testemunhas então contaram-lhes como fora salvo o endemoninhado. E toda a população do território dos gerasenos pediu que Jesus se retirasse, porque estavam com muito medo. E Ele, tomando o barco, voltou.
O homem do qual haviam saído os demônios pediu para ficar com Ele; Jesus, porém, o despediu, dizendo. “Volta para tua casa e conta tudo o que Deus fez por ti”. E ele se foi proclamando pela cidade inteira tudo o que Jesus havia feito em seu favor.".

Uma boa coisa a se perceber nestes textos é que: as sementes são sempre boas, o problema consiste no que está à sua volta e é isto que vai contribuir ou atrapalhar o desenvolvimento desta semente que somos nós, individualmente.
Jesus fala de sua família, não que Ele esteja negando a sua família de sangue, em momento algum Jesus faz isso, Ele somente está dizendo que tem uma família maior e que também sua mãe e seus irmãos fazem parte desta e que nós também podemos fazer. Se reparar-mos de maneira um pouco mais aprofundada, Ele está querendo nos dizer que: não veio apenas para o povo de Israel e sim para toda humanidade.
No primeiro parágrafo destes textos fica bem claro o “sucesso”, se é que pode se dizer assim, dos trabalhos de Jesus e os seus: “Reunindo-se numerosa multidão que de cada cidade vinha até Ele, Jesus falou em parábola.”, e mesmo diante deste "sucesso" Ele se retira com os seus e vai para um outro pais, e novamente apresenta-se a necessidade de levar a palavra para todos.
No percurso para este outro pais Jesus adormece no barco, pois, era para que os seus discípulos fizessem o trabalho a que se prestaram quando decidiram segui-lo (pescadores de homens), mas ficaram diante de um grande problema que não conseguiam resolver sem sua ajuda, tanto que precisaram acordá-lo (tempestade acalmada e o Endemoninhado geraseno) no caso do endemoninhado, como os seus discípulos poderiam apresentar a Palavra se eles nem sabiam quem era Jesus quando disseram: “Quem é este, que manda até nos ventos e nas ondas, e eles lhe obedecem?”. E aqui fica de maneira bem clara a incompreensão de seus discípulos e nos mostra também que é tão difícil apresentar Jesus, dentro, quanto é fora de nossa comunidade.
Muitos símbolos estão aqui presentes: a palavra “casa” e a palavra “sepultura”, uma é o contrário da outra; o homem está sem roupas e depois se apresenta vestido com uma túnica; os porcos e pastores de porcos, aqui temos um grande contraste com a figura de Jesus onde nos Evangelhos Jesus é o Pastor de ovelhas, que somos nós, e Ele dá a sua vida pelas suas ovelhas.
Porcos simbolizam o que há de mais impuro, e nem aqueles porcos suportaram aquela carga que o geraseno carregava, que acredito ser a terrível sensação de ausência de Deus.
Os membros daquela cidade cultuavam outros deuses e a ignorância e o medo da novidade ainda os impediam de perceber a Boa Nova, a exemplo da esposa de Ló quando virou uma estatua de sal. Toda sua realidade podia ser cruel, mas era a sua realidade, aceitar o novo cegamente não é para qualquer um, se faz necessário ter uma visão completa da sua atual realidade e perceber a ausência da esperança, ou que o atual caminho não leva a nada.
Jesus pede ao geraseno que: "vá para sua casa e lhes diga tudo que Deus lhe fez", e este homem obedece e vai além, ele vai levar também para a cidade toda. Agora quem tem um Deus para apresentar é ele, a semente de vida está lançada, agora está inserida no meio desta nação.
Jesus e sua Boa Nova veio para todos, temos que nos desdobrar, gastar nossas energias para entender o que significa, “tenham vida em abundância”, “amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”, “siga-me”, “Eu Sou”...
Este homem endemoninhado, procurava Deus e não aceitava os modelos apresentados por sua sociedade, dai vinha a sua ausência de Deus, seu afastamento da sociedade e família (casa). Este homem e a sua recusa à falsos modelos, o põe ao lado de Jó que também refuta falsos modelos de deuses que lhes são apresentados, por sua fidelidade e por que ele conhece um Deus verdadeiro e sabe como se dá a sua Ação.
Todos devemos conhecer a Deus e sem oração isso não é possível, a oração é um diálogo e não um monólogo e quando dialogamos podemos ouvi-lo, ou percebê-lo na sutileza do nosso dia-a-dia.
Podemos dar atributos verdadeiros para Deus, Jesus também o fez quando disse: “só Deus é bom”, “Pai”...; atributos como: misericordioso, justo, amoroso, caridoso, bom... somente assim podemos, a exemplo deste homem geraseno, nos recusar os falsos modelos como: “banqueiro”, “farmacêutico”, “médico”, “carrasco”, “cobrador”, “agiota” ... Desabafos à parte vamos seguir o estudo! 
A amplitude do trabalho de Jesus chega agora aos gadarenos, Lucas quer ilustrar o quanto está distante os modelos de deuses daquela região, colocando pastores de porcos, que na contramão dos modelos de Jesus, fogem e deixam o seu rebanho à morte. Jesus é o pastor que dá a vida pelas suas ovelhas (João 10,15) “... dou a minha vida pelas ovelhas”.
Aqui também fica uma grande lição para nós, que é como devemos levar a Palavra em frente, Ele a leva somente para quem a está procurando, Ele não prega para toda a cidade dos gadarenos, pois, eles não o querem por lá. Aquele homem é a boa semente que caiu em solo fértil, é ele quem trará frutos, e conseqüentemente novas sementes. Trata-se da maneira correta de evangelizar, planta-se uma semente. Quando Jesus está sobre o barco Ele está inserido em uma comunidade e para Ele entrar em outra comunidade Ele deve descer deste barco, e é assim que devemos Evangelizar. Para semear a Palavra em uma comunidade que não seja a nossa, ela deve ser inserida em alguém pertencente àquela comunidade e ai sim esta boa semente irá influenciar uma determinada cultura ou uma religião. 
Temos que dar exemplos, temos que ser Luz, mas ainda somos muito ruins nisso, ainda queremos ver Jesus dormindo, para que Ele venha somente quando, precisarmos, ou estivermos em apuros.

"Se por acaso a passagem em que Jesus fala de sua mãe e seus irmãos ainda te incomoda, eu também pertenço à família de Jesus, entendeu meu irmão!"

Quadro: Carlos Araujo - "A Tempestade Acalmada"Bíblia - Citações"