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sábado, 13 de novembro de 2010

A prisão de Jesus - João (18, 1 – 11), Mateus (26, 47 – 56), Lucas (22, 47 – 53) e Marcos (14, 43 – 52).



“Então disse Jesus aos doze: ‘Quereis vós também retirar-vos?’ Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: ‘Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna’.” João 6, 67s.
Muitas pessoas me perguntam, por que Jesus se oferece como alimento? Esta é uma pergunta muito complicada de se responder e saber a resposta a este mistério é uma coisa, explicar é um pouquinho mais difícil.
Divergências de opiniões fazem parte do ser humano, entre os discípulos elas também aconteciam e em todos os aspectos, uns acreditavam que Deus viria e colocaria um ponto final nas injustiças do mundo, está linha é a de Judas Iscariotes. Outros acreditavam que Deus viria por um ponto final mas, poderíamos dar uma ajudinha com as nossas próprias mãos, está linha era a de Pedro, e a prova disso é que Pedro andava armado com uma espada em sua cintura.
Jesus não era de nenhuma destas linhas, em seu tempo, quando caminhava entre nós, Ele ensinou que Deus viria acabar definitivamente com a injustiça e que podemos ajudar sim mas, com o amor, o perdão e a graça, e não com a espada e nem tão pouco com os braços cruzados.
Todo mistério nos conduz a uma investigação e é em formato de investigação que esta reflexão teológica será conduzida. As testemunhas serão os próprios evangelistas com os seus textos.
Os evangelistas são quatro, cada um tem um ponto de vista pessoal e se atentam a detalhes que escapam a percepção dos outros, quando desejamos fazer uma leitura mais aprofundada sobre uma determinada passagem, muitas vezes temos que ler a mesma passagem nos outros evangelhos,  para isso fiz uma montagem, pouco ortodoxa, juntei parte do texto que achei relevante e os colori, cada qual com a cor que estabeleci para o seu respectivo evangelista. A quem preferir leia os quatro evangelhos na integra.
 A prisão de Jesus
João 18, 1 – 11, Mateus 26, 47 – 56, Lucas 22, 47 – 53, Marcos 14, 43 – 52
 Tendo dito isso, Jesus foi com os seus discípulos para o outro lado da torrente do Cedron. Havia ali um jardim, onde Jesus entrou com seus discípulos. Ora, Judas, que o traía, conhecia também esse lugar porque, freqüentemente, Jesus e seus discípulos aí se reuniam. Eis que veio Judas, um dos Doze acompanhado de grande multidão com espadas e paus, da parte dos chefes dos sacerdotes e dos anciãos do povo. Seu traidor dera-lhes um sinal, dizendo: “É aquele que eu beijar; prendei-o”. E logo, aproximando-se de Jesus disse: “ Salve, Rabi!” e o beijou. Jesus respondeu-lhe: “Amigo, para que estás aqui? Então, avançando, deitaram a mão em Jesus e o prenderam.
Vendo o que estava para acontecer, os que se achavam com ele disseram-lhe: “Senhor, e se ferirmos à espada?” E um deles feriu o servo do Sumo Sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. O nome do servo era Malco. Jesus, porém, tomou a palavra e disse: “Deixai! Basta!” E tocando-lhe a orelha, curou-o. Mas Jesus lhe disse: “Guarda a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam a espada pela espada perecerão. Ou pensas tu que eu não poderia apelar para o meu pai, a fim de que ele pusesse à minha disposição, agora mesmo, mais de Doze legiões de anjos? Deixarei eu de beber o cálice que o Pai me deu? E como se cumpririam então as Escrituras, segundo as quais isso deve acontecer?” E naquela hora, disse Jesus às multidões: “Como ao ladrão, saístes para prender-me com espadas e paus! Eu sentava no Templo ensinando todos os dias e não me prendestes”. Tudo isso, porém, aconteceu para se cumprirem os escritos dos profetas: “Não perdi nenhum dos que me destes”. Então todos os discípulos, abandonando-o, fugiram. Um jovem o seguia, e sua roupa era só um lençol enrolado no corpo. E foram agarrá-lo. Ele, porém, deixando o lençol, fugiu nu.
Para entendermos melhor a simbologia deste texto, temos que recorrer ao antigo testamento, pois, aqui existem muitas relações entre eles. Estas relações são muito importantes e elas pautam toda a vida de Jesus porque é nele e para Ele que todos os textos sagrados apontam.
No Êxodo, Moisés e o povo na ultima praga do Egito, onde o cordeiro é oferecido para livrar o povo hebreu do anjo da morte que passaria e tiraria a vida de cada primogênito do Egito, e quem comesse da carne do cordeiro seria salvo. Na pessoa de Jesus, o primogênito e o cordeiro estão presentes e a morte não terá vez sobre Ele.
Outra relação com o antigo testamento da passagem que aqui estamos estudando, uns poucos versículos atrás, Jesus diz ser a Videira (Arvore da Vida) e Jesus está em um jardim, estas palavras chaves nos remetem a Genesis e o Jardim do Éden onde a Arvore da Vida Eterna se encontra no meio deste jardim. Deste jardim fomos expulsos por causa do pecado e aqui seremos resgatados e reinseridos ao seio do Criador, pois, Jesus aqui é a Arvore da Vida, É Ele que se oferece como alimento e é Ele quem diz: “...Tomai isso é o meu corpo...” (Marcos 14, 22). O contra ponto à esta afirmação está nas palavras de Deus Criador em Genesis: “Depois disse Iahweh Deus: ‘Se o homem já é como um de nós, versado no bem e no mal, que ele não estenda a mão e colha também da árvore da vida, e coma e viva para sempre!’”.  (GN 38, 22).
O que está em jogo aqui é a quebra da Aliança de Deus com a humanidade e o restabelecimento da mesma. Aqui está Nova e Eterna Aliança. Jesus é em tudo semelhante ao homem, menos no pecado, Ele é o novo Adão, é Ele quem vence o pecado e assim vence também a morte.
A prisão de Jesus é a continuação da Ceia Pascal, aqui estão presentes todos os elementos de um ritual de sacrifício, o sacerdote e sua investidura, a comunidade, a vitima da expiação pelos pecados e também as ferramentas necessárias para um ritual de sacrifício.
Jesus não é o cordeiro da expiação escolhido pelos homens e sim o Cordeiro imaculado escolhido por Deus e apontado pelos profetas. É Ele quem se oferece ao sacrifício, Ele está em um jardim feito cordeiro a espera dos outros elementos desta Eucaristia . Aqui é chegada a hora em que Jesus se apresenta como Cordeiro do Sacrifício quando diz: “Eu sentava no Templo ensinando todos os dias e não me prendestes”. Os sacrifícios eram realizados dentro do Templo e em um altar diante de toda a comunidade.
Outros elementos que tem relação com os antigos textos são: de investidura sacerdotal, no meio da multidão não se encontra o sumo sacerdote do Templo, pois, Jesus é quem está sendo investido desta função. O sangue e a orelha direita são outros elementos da consagração de investidura encontrado em Êxodo (29, 20), onde o sangue é colocado na orelha direita do sacerdote (Aarão e seus filhos),  outro acontecimento ligado a Aarão e seu sacerdócio está em Números (20, 23 – 29), onde ele, depois de morto é despido por Moisés que, obedecendo as ordens de Deus, passa as vestes de Aarão para Eleazar, filho de Aarão investindo-o e o consagrando como Sumo Sacerdote, aqui as vestes também são simbolicamente retiradas no momento em que o jovem que vestia apenas um lençol, que em sua fuga fica nu, deixando apenas as suas vestes. Simbolicamente seria a Investidura de Jesus como definitivo Sumo Sacerdote.
Quanto às armas, o que nos chama atenção é que elas também são apresentadas em rituais de sacrifício, a adaga (espada) era um instrumento necessário para imolar o animal que era oferecido em expiação dos pecados da comunidade. No texto em que Abraão irá sacrificar Isac a adaga também está presente. Em um exército a apresentação das armas faz parte de um ritual, elas são apresentadas momentos antes de saírem em marcha para a guerra, onde os soldados, de certa forma estariam indo, ou dispostos a ir, para o sacrifico.
A batalha que tem seu inicio aqui, não é uma batalha como acontece em disputas, ou guerras, está batalha é contra a morte, ela é que será vencida para todo sempre. Para esta batalha Jesus não precisa de soldados, nem anjos, nem espadas ou paus, para está batalha Jesus leva consigo nossos pecados e toda a pureza do amor do seu Ser. É o justo pelo injusto! O puro pelo impuro! A podridão dos fatos mais obscuros de nossa existência como humanos, confrontadas com a misericórdia que somente o infinito amor de Deus poderia redimir-nos.
Tudo isso é a nova e eterna Aliança entre Deus e a humanidade, a derrota da morte, o restabelecimento do Éden. Jesus é o Novo Adão, ele é a chave e o Caminho que nos levará ao reencontro com Deus e a sua Justiça.
Quando a humanidade entender que os seus atuais caminhos e modelos políticos, sociais e religiosos, só nos conduzem à injustiça! Quando os “poderosos” entenderem que as mesmas conseqüências que ameaçam os nossos descendentes, também ameaçam os descendentes dos mesmos! No dia em que a humanidade aprender a olhar para os Ensinamentos e Caminhos do mestre Jesus e entender que somente nele há Justiça, ai sim, somente ai nossos filhos e netos poderão viver um mundo melhor.
Enquanto isso não acontece, continuaremos nos submetendo às instituições falidas que ficam se reinventando cada vez mais na tentativa desesperada de manterem-se no podre e falso poder. Enquanto não abrirmos os nossos narizes para sentir o cheiro da podridão que emana destas fabricas de ignorância em massa, continuaremos vivendo este inferno de fezes que cerca nossa existência e ameaça a nossa descendência.
Gostaria muito de ainda estar neste mundo para ver a queda desta podridão. O perigo é que a chance de que ela apenas troque de mão ainda é muito grande.

Quadro: Carlos Araujo - "Jesus, a Videira" e "O Beijo de Judas" Bíblia - Citações"

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O túmulo vazio - Marcos 16, 1 - 6




“Quem rolará a pedra da entrada do túmulo para nós?”

Este é um texto muito claro que nos traz uma reflexão muito significativa, tanto de fé como pessoal.

Para muitos que me conhecem ela não é nenhuma novidade e para muitos que não me conhecem também, porém, ela é uma das minhas favoritas e quero partilhá-la com o maior número de pessoas possível.

Ao meu ver esta passagem nos mostra que, não importa o tamanho da dificuldade que estejamos passando, temos que continuar caminhando e na direção certa.

Marcos nos mostra que para tudo tem solução e derruba o ditado que diz: “Somente a morte não tem solução”. A grande novidade aqui é que ela tem solução sim!

Marcos (16, 1 – 6) - Passado o sábado, Maria de Magdala e Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para ir ungir o corpo. De madrugada, no primeiro dia da semana, elas foram ao túmulo ao nascer do sol.

E diziam entre si: “Quem rolará a pedra da entrada do túmulo para nós?” E erguendo os olhos, viram que a pedra já fora removida. Ora, a pedra era muito grande. Tendo entrado no túmulo, elas viram um jovem sentado à direita, vestido com uma túnica branca, e ficaram cheias de espanto. Ele, porém, lhes disse: “Não vos espanteis! Procurais Jesus de Nazaré, o Crucificado. Ressuscitou, não está aqui. Vede o lugar onde o puseram.

No caminho daquelas mulheres haviam dois obstáculos, o primeiro era que a esperança havia se esvaído, pois, o Mestre estava morto; o segundo era a enorme pedra que as impedia de cumprir o ritual. No desfecho desta caminhada, nem a pedra estava fechando o túmulo e nem o corpo de Jesus se encontrava lá dentro.

O caminho que elas seguiam as levavam a Jesus, porém, um Jesus morto. Mas elas seguiram em frente e fazendo assim, encontram a pedra removida e recebem a grande novidade nas palavras do jovem que estava no túmulo: “Não vos espanteis! Procurais Jesus de Nazaré, o Crucificado. Ressuscitou, não está aqui. Vede o lugar onde o puseram”. A grande novidade aqui é que não se encontra Jesus em um cemitério, alias, no cemitério não se encontra ninguém, a não ser os amigos ou parentes que estão ali com flores e cheios de saudades.

Por duas vezes e no mesmo parágrafo Marcos destaca que é domingo. Ao meu ver sua intenção com isso é remeter-nos a “Criação” a inauguração de tudo, do nada absoluto e do caos mais profundo (o equivalente à morte), Deus suscita a vida. Marcos está nos dizendo que Jesus está vivo pois Ele venceu a morte e não foi somente para Ele, foi também para cada um de nós e de maneira definitiva e irrestrita.

Jesus é a novidade, Ele é o novo Adão, é Ele que, vencendo o pecado da corrupção mundana, inaugura a entrada para o Reino e restabelece todas as alianças do Criador com a humanidade.

Está passagem nos trás uma grande lição de perseverança mostrando que não importa quais são os tamanhos dos nossos problemas, temos que acreditar e confiar em Deus, pois, é Ele quem remove as pedras.

Se olharmos um poucos para trás poderemos ver quantas pedras foram arrancadas dos nossos caminhos e quantos anjos Deus nos enviou para nos ajudar à remove-las, muitas vezes estes anjos são os nossos filhos, outras vezes os nossos pais, amigos e até mesmo anônimos que surgem do nada. O que realmente importa aqui é caminhar e ter fé.

Para quem gosta daquele ditado que diz: “A esperança é a ultima que morre.”, bom se a sua esperança está depositada em Deus, então ela não morre!


"Mas Jesus lhe respondeu: "Segue-me e deixa que os mortos enterrem seus mortos". Mateus 8, 22









Quadro: Carlos Araujo - "O anjo sobre a pedra" Bíblia - Citações"

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Jesus entre os Samaritanos - João 4, 1 - 42



“Se conhecesses o dom de Deus e quem é que lhe diz: ‘Dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias e Ele te daria água viva!”


Na vida paixão e morte de Jesus, as mulheres recebem um verdadeiro resgate em seu fundamental papel de filhas de Deus, os momentos mais importantes da história do mundo cristão estão reservados às mulheres, foi assim no anuncio do nascimento de Jesus e também na sua ressurreição, porém, no cristianismo estes fatos caíram no esquecimento até os dias de hoje.
Mesmo após os ensinamentos de Jesus, a mulher era um mero coadjuvante na sociedade, frases como: “submissa ao marido” ou “..estejam caladas as mulheres nas assembléias... Devem ficar submissas, como diz também a Lei” 1 Coríntios 14, 34. Mas isso não é uma particularidade bíblica, este “machismo” sempre esteve presente em todos os tempos antigos inclusive na Grécia – antiga. Para os gregos a mulher era incapaz de amar e elas eram meros “vasos reprodutores”, a alguns poucos anos o Papa Bento XVI emitiu uma nota onde proibia as mulheres de subirem no presbitério, local onde fica o altar, mas depois recuou de sua decisão.
Voltando aos tempos de Jesus, para os judeus somente pisar nas terras da Samaria já os tornaria impuros, falar com uma mulher samaritana então era quase um sacrilégio, porém, Jesus age com muita serenidade, e esta atitude causará espanto até entre os seus discípulos.
Como tudo que procede da boca de Deus, este texto bíblico nos reserva um momento maravilhoso onde Jesus nos mostra, além da sua divindade a sua, também humanidade e compaixão.

Jesus entre os Samaritanos. João 4, 1 - 42
Samaritana
Escultura em mármore
Inst. Ricardo Brennand
Recife.
Quando Jesus soube que os fariseus tinham ouvido dizer que ele fazia mais discípulos e batizava mais que João – ainda que, de fato, Jesus mesmo não batizasse, mas os seus discípulos – deixou a Judéia e retornou a Galiléia. Era preciso passar pela Samaria. Chegou, então, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto da região que Jacó havia dado a seu filho José. Ali se achava a fonte de Jacó. Fatigado  da caminhada, Jesus sentou-se junto à fonte. Era por volta da hora sexta.
Uma mulher da Samaria chegou para tirar água. Jesus lhe disse: “Dá-me de beber!” Seus discípulos haviam ido à cidade comprar alimentos. Diz-lhe, então, a samaritana: “Como, sendo judeu, tu me pedes de beber, a mim que sou samaritana?” (Os judeus, com efeito, não se dão com os samaritanos.) Jesus lhe respondeu:
“Se conhecesses o dom de Deus e quem é que lhe diz: ‘Dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva!” Ela lhe disse: “Senhor, nem sequer tens vasilha e o poço é profundo; de onde, pois, tiras essa água viva? És, porventura maior que o nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu, assim como seus filhos e seus animais?” Jesus lhe respondeu: “Aquele que bebe desta água terá sede novamente; mas quem beber da água que lhe darei, nunca mais terá sede. Pois a água que eu lhe der tornar-se-á nele fonte de água jorrando para a vida eterna”.
Disse-lhe a mulher: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem tenha de vir mais aqui para tirá-la!” Jesus disse: “Vai, chama teu marido e volta aqui”. A mulher lhe respondeu: “Não tenho marido”. Jesus lhe disse: “Falaste bem: ‘Não tenho marido’, pois tiveste cinco maridos e o que agora tens não é teu marido; nisso falaste a verdade”. Disse-lhe a mulher: “Senhor, vejo que és profeta.... Nossos pais adoraram nesta montanha, mas vós dizeis: é em Jerusalém que está o lugar onde é preciso adorar. Jesus lhe disse:
“Crê, mulher, vem a hora em que nem nesta montanha nem em Jerusalém adorareis o Pai.
Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus.
Mas vem a hora – e é agora – em  que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade, pois tais são os adoradores que o Pai procura.
Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade”.
A mulher lhe disse: “Sei que vem um Messias (que se chama Cristo). Quando ele vier, nos explicará tudo”. Disse-lhe Jesus: “Sou eu, que falo contigo”.
Naquele instante, chegaram os seus discípulos e admiravam-se de que falasse com uma mulher; nenhum deles, porém, lhe perguntou: “Que procuras?” ou “Que falas com ela?. A mulher, então, deixou seu cântaro e correu à cidade dizendo a todos: “Vinde ver um homem que me disse tudo que fiz. Não seria ele o Cristo?” Eles saíram da cidade e foram ao seu encontro.
Enquanto isso, os discípulos rogavam-lhe: “Rabi, come!” Ele, porém, lhes disse: “Tenho para comer um alimento que não conheceis”. Os discípulos se perguntavam uns aos outros: “Por acaso alguém lhe teria trazido algo para comer?” Jesus lhes disse: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra. Não dizeis vós: ‘Ainda quatro meses e chegará a colheita?’ Pois bem, eu vos digo: Erguei vossos olhos e vede os campos: estão brancos para a colheita. Já  o ceifeiro recebe seu salário e colhe o fruto para a vida eterna, para que o semeador se alegre juntamente com o ceifeiro. Aqui, pois, se verifica o provérbio: ‘um é o que semeia, outro o que ceifa’.
Eu vos enviei a ceifar onde não trabalhastes; outros trabalham e vós entrastes no trabalho deles”.
Muitos samaritanos daquela cidade creram nele, por causa da palavra da mulher que dava testemunho: “Ele me disse tudo o que fiz!” Por isso, os samaritanos vieram até ele, pedindo-lhe que permanecesse com eles. E ele ficou ali por mais dois dias. Bem mais numerosos foram os que creram por causa da palavra dele e diziam à mulher: “Já não é por causa do que tu falaste que cremos. Nós próprios o ouvimos, e sabemos que esse é verdadeiramente o salvador do mundo”.

A missão de Jesus, em seu tempo, tem início na Galiléa e seu desfecho em Jerusalém, e aqui nesta passagem Ele faz o Caminho inverso. Ele volta atrás e resgata os que foram divididos por este Caminho. Nas palavras da samaritana ela diz: “Sei que vem um Messias (que se chama Cristo)”,  realmente  eles são um povo que se dividiu do judeu, portanto aqui também verificasse um anuncio da chegada do messias e novamente o primeiro a recebê-lo entre eles foi uma mulher.
A samaritana vem ao poço ao meio-dia (hora sexta), ela está sozinha e vem pegar água, é por volta da mesma hora em que Jesus em sua cruz pede água e recebe vinagre (João 19, 28). Outro momento em que Jesus pede água está na passagem “Bodas de Caná” (João 2, 1 - 11) e é quando Ele transforma água em vinho, mas não é um vinho qualquer e sim o melhor vinho, o mesmo se sucede com a água, ela é água viva.
Aquela mulher era solteira, pois, disse não ter marido mas, o povo da Samaria adoravam cinco deuses – dai vem os cinco maridos – neste instante ela ainda é solteira porque não reconheceu Jesus como Deus e sim como um profeta. Nisso vem as palavras de Jesus: “Falaste bem: ‘Não tenho marido’, pois tiveste cinco maridos e o que agora tens não é teu marido; nisso falaste a verdade”. Aqui o “matrimônio” dela com Deus ainda não havia acontecido.
Em muitas das histórias bíblicas que se referem a poços, estão presentes a figura da esposa e do seu futuro marido, Moisés e Zípora (Êxodo 2, 15-21), Jocó e Raquel (Genesis 29), Isac e Rebeca (Genesis 21, 17ss)... Da mesma forma estão Jesus e a samaritana – tendo em mente que em Oséias, Deus assume o papel de marido. “E naquele dia, diz o SENHOR, tu me chamarás: Meu marido; e não mais me chamarás: Meu senhor.” Oséias (2, 1 -16)
Este texto nos mostra uma progressiva conversão, ao longo do dialogo da samaritana com Jesus, que vai de um mero judeu, que depois é maior que Jacó,  passa a vê-lo como um profeta e termina como salvador do mundo. Esta conversão atinge a mulher de tal forma que, ela vai e leva a Boa Nova (água viva) aos seus, que crêem e é ela mesma que os apresenta a Jesus.
A exemplo do profeta Jonas em Nínive que era uma grande cidade de três dias de caminhada, Jesus tem que cruzar a Samaria e se detém durante três dias em Sicar e a converte apenas com a força de sua palavra - diferentemente dos textos anterior e posterior à está passagem - aqui ninguém lhe pede para fazer um sinal, pois, eles tinham sede de conhecimento de Deus. É a força da Palavra de Jesus que inunda os seus ouvintes de Sicar e o reconhecem como o salvador do mundo.
A força e a beleza, das palavras de Jesus permaneceram vivas nos Evangelhos e no Espírito, porém, muitas vezes as lemos sem nos darmos conta disso, como quem vai a um museu e deparando-se com um canhão, abre um sorriso e faz pose para fotos, se esquecendo que aquele objeto é uma arma feita para matar nossos semelhantes. É desta mesma forma que olhamos para o crucifixo, vemos Jesus crucificado e ainda o colocamos no pescoço como uma linda jóia, outros colocam a bíblia embaixo do braço e no entanto só enxergam aquilo que querem e como donos da verdade fazem suas oferendas a Deus e saem condenando ao inferno tudo e todos. Não há compromisso algum, tudo isso é hipocrisia, tanto das instituições quanto dos seus seguidores. Ficamos esperando sinais, curas, ou incontáveis riquezas e não nos damos conta da força e da beleza dos ensinamentos ali contidos.
Nesta passagem Jesus se comporta como um poço, pois, Ele não sai de seu lugar e inclusive pede para a mulher que chame o seu marido e volte ali mesmo. É Ele o poço de Águas Vivas onde qualquer um pode beber desta água e Ele continua sendo, porém, em Espírito. Disse o próprio Jesus: “...Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade”. Nossa sede é de Deus e ela é a mesma sede de Justiça e de Amor.
Agora pare para pensar um pouco e penetre dentro de você, olhe para o seu passado, vislumbre o seu presente e o seu futuro. Se você perceber a ausência incomoda  de alguma coisa que falta para te completar como ser humano, irá descobrir que é sede, algo semelhante a um poço vazio dentro de nós. A isso podemos dar o nome de sede de Deus, essa é a água viva. Ele está ai esperando para jorrar esta água, peça e este seu poço nunca mais ficará seco e quanto mais você distribuir desta água mais água você terá, a isso chamamos Graça de Deus.
Temos que conhecê-lo como Ele é, e não pode ser porque o padre ou o pastor disse. Neste texto a mulher apresenta Jesus ao povo e depois o próprio povo diz: “Já não é por causa do que tu falaste que cremos.”. Deus é Amor de graça e misericórdia infinita. É importantíssimo que aprendamos isso de uma vez por todas e não pode ser porque está escrito aqui e sim porque está gravado em seu coração.
Deus quer que tenhamos vida e em abundância, Ele não nos pede sacrifícios algum e nem provas, isso é hipocrisia e se alguém lhe disser ao contrário este alguém está mentindo ou ele não entendeu nada. Deus só sabe amar os seus filhos e radicalmente todos nós somos, portanto ame-o da mesma forma.
Temos que entender que em Gênesis, quando a mulher é chamada de auxiliar do homem, não é auxiliar no sentido pejorativo ou algum tipo de redução da mulher. Ex: Nos Salmos (30,10), (38,22), (40,13), (40,17), (54,4), (63,7), (70,5) e (94,17) quando diz: "Ó Senhor venha ao meu auxílio" ou "seja o meu auxílio), lemos estes Salmos e não vemos de forma alguma que os seus autores  estão diminuindo Deus, e é neste sentido que Gênesis se refere a esta palavra.
Nesta passagem de João, entre outras, Jesus nos mostra um verdadeiro resgate ao real papel da mulher na história da humanidade e toda a sua importância.
Poderíamos enumerar muitos outros motivos para afirmar que, de machista Jesus não tem nada, Jesus é Deus e Marido de todas as mulheres, e só isso é motivo de regozijo para todas elas.
Que Deus abençoe todas as mulheres e que Ele venha ao auxílio dos machistas e das instituições também machistas - inclusive a instituição "família".


“E disse-me mais: Está cumprido. Eu sou o Alfa e o Omega, o princípio e o fim. A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida.
(Apocalipse 21,6)”.

Quadro: Carlos Araujo - "O Salvador" Bíblia - Citações"

domingo, 29 de agosto de 2010

1 Coríntios 12, 31s ; 13 - A hierarquia dos carismas. Hino á caridade


Esta reflexão não foi eu que a escolhi, é um pedido de uma pessoa de fé inabalável e que me é muito cara, ela se chama Iris e mora em Recife. Por vir de uma mulher, recebi o pedido com estranheza, pois Paulo era muito machista, influência sócio cultural de sua época, coisa que não era peculiar a Jesus.
Após sua súbita conversão Paulo sai em missão junto com Barnabé, em suas viagens Paulo, plantava as suas sementes e seguia em frente em sua missão de apostolo de Jesus. Ele não perdia de vista as comunidades que deixava aos cuidados de um fiel e se comunicava e aconselhava por meio de cartas, as quais o tornaram uma das personalidades mais conhecida em nossos dias. Ele se comporta conforme a comunidade que se encontra, para ele o fundamental é manter a unidade da mesma.
Em Coríntios, a comunidade cristã está com alguns problemas de conduta, problemas comuns a uma comunidade, desvios de caráter, desvios de mérito que desencadeiam uma série de outros problemas, Paulo tenta explicar que os méritos são de Deus, os discípulos e o apóstolo são apenas operários e servos da vontade deste mesmo Deus.
O texto de Paulo que se segue é um verdadeiro dualismo platônico, e um dos textos bíblicos mais conhecidos entre nós, esta verdadeira obra prima de Paulo, nos apresenta um contraste entre este mundo imperfeito e o devir perfeito de Deus.
1 Coríntios 12, 31s; 13 A hierarquia dos carismas. Hino á caridade
Aspirai aos dons mais altos. Aliás, passo a indicar-vos um caminho que ultrapassa a todos.
Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como bronze que soa ou como címbalo que tine.
Ainda que tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência, ainda que tivesse toda fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse a caridade, nada seria.
Ainda que distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse meu corpo às chamas, se não tivesse a caridade, isso nada me adiantaria.
A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho.
Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor.
Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
A caridade jamais passará.
Quanto às profecias, desaparecerão.
Quanto as línguas, cessarão.
Quanto à ciência, também desaparecerá.
Pois o nosso conhecimento é limitado, e limitada é a nossa profecia.
Mas, quando vier a perfeição, o que é limitado desaparecerá.
Quando era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança.
Depois me tornei homem, fiz desaparecer o que era próprio da criança.
Agora vemos em espelho e de maneira confusa, mas, depois, veremos face a face.
Agora meu conhecimento é limitado, mas, depois, conhecerei como sou conhecido.
Agora, portanto, permanecem fé, esperança, caridade, essas três coisas. A maior delas, porém, é a caridade.

Aqui a palavra “amor” ganha um significado coletivo, o do “amor ágape” e é traduzida como “caridade” que é, para Paulo, um dos dons do Espírito Santo e tem o mesmo significado que amor ao próximo.
Paulo se esforça no sentido do que realmente vale a pena, e que devemos aspirar as coisas que nos colocam a serviço de Deus e quando o fizermos, façamos pelo motivo correto, sem que nos vangloriemos e sem barganhas.
Paulo não enumera os dons do Espírito Santo como a Igreja o faz, em 12, 8 –11 são nove os dons: sabedoria, ciência, fé, cura, milagres, profecia, falar em línguas e interpretar estas línguas. Em 13, 13 estão acrescentados: esperança e caridade (amor). Sua preocupação consiste em que a comunidade funcione como um organismo vivo e pulsante e para tal é necessário que tudo e todos o façam de maneira comprometida e que edifiquem o todo e não a parte.
Pessoalmente prefiro a palavra discípulo à palavra apóstolo, e como um verdadeiro discípulo Paulo almeja o bem maior, sua reflexão deveria ser estudada e aprofundada por todas as instituições em nossos dias de hoje, não se trata de uma fórmula mágica ou de um grande milagre, ela é simples e objetiva e nos faz vir a tona aquela questão que não se cala: qual a parte que me cabe neste todo?
Paulo nos mostra o devir, o Reino de Deus onde somente o amor gratuito e comprometido com o todo nos será necessário. Um Éden onde andaremos nus e sem ressalvas, um Reino onde a língua falada é a da verdade e a do amor, onde o conhecimento suplanta a revelação e a profecia, onde inveja e a ostentação não encontram pouso.
Paulo entende que este Reino pode e deve ser instalado aqui, e que para isso, todos estes dons do Espírito devem ser observados mas, com o crivo da caridade que é o amor com todas as suas divinas propriedades. Paulo nos diz ainda: 6, 17 “... aquele que se une ao Senhor, constitui com Ele um só Espírito.”




Quando tudo que fazemos for com amor, tudo fica assim: http://www.youtube.com/watch?v=o05Z_EiG6Rs




Quadro: Carlos Araujo - "O Espírito Santo" Bíblia - Citações"

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Falsos Profetas

Procuro ser o mais neutro possível, não gosto de discussões ideológicas febris mas, as vezes meu lado denunciador e profético se aflora e fica inevitável o comentário.

Uma pessoa a quem amo muito, me fez uma pergunta bem apropriada para o momento, ela queria saber o que vem a ser um profeta, ou uma profecia.
Ser um profeta muitas vezes é enxergar o óbvio, quando estamos em um caminho temos que saber onde ele nos leva, senão estamos perdidos. O papel do profeta é apresentar o fim deste caminho, antes que cheguemos lá, ou mesmo após ter chegado, a fim de avaliarmos o nosso destino e assim continuarmos nesta direção ou não.

Semana passada assistindo a um programa evangélico na TV, havia um pastor americano de nome Morris Cerullo, um outro pastor que traduzia simultaneamente para o português e o Pastor Silas Malafaia.

Este americano, se intitulando “profeta”, fazendo uma hermenêutica em Êxodo 12, 35s “Os israelitas fizeram com Moisés havia dito, e pediram aos egípcios objetos de prata, objetos de ouro e roupas. Iahweh fez com que o seu povo encontrasse graça aos olhos, de maneira que estes lhes davam o que pediam; e despojaram os egípcios”. Ele dizia que o Brasil está crescendo muito e que isso era porque as graças de Deus estariam vindo para cá e que Deus derramaria estas riquezas conforme aprouvesse ao Espírito Santo e para quem “doasse” a quantia de R$ 610,00, Deus mandaria riquezas inimagináveis, a quem fizesse este gesto de fé, naquele mesmo momento.

Por que eles não pedem para que dêem este mesmo valor aos pobres? Por que o dinheiro tem que ir para eles? Se a justificativa é que um programa de TV é muito caro, a Internet é quase gratuita e tem um alcance igual ou maior.

Por que estes “profetas” não seguem as práticas de seu mestre Jesus, e quero aqui apontar uma delas: Mateus (19, 16 – 22) O moço rico – Ai alguém se aproximou dele e disse: “Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna? Respondeu: “Por que me perguntas sobre o que é bom? O Bom é um só. Mas se queres entrar para a Vida, guarda os mandamentos”. Ele perguntou-lhe: “Quais?” Jesus respondeu: “Estes: Não matarás, não adulterarás, não roubarás, não levantaras falso testemunho; honrar teu pai e tua mãe, e amaras o teu próximo como a ti mesmo”. Disse-lhe então o moço: “Tudo isso tenho guardado. Que me falta ainda?” Jesus lhe respondeu: “Se queres ser perfeito, vai, vende o que possuis e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me”. O moço ouvindo essa palavra, saiu pesaroso, pois era possuidor de muitos bens.

Pois bem, eu também sou profeta e aqui vou fazer a minha e ela não tardará a se realizar, para que os falsos profetas, tenham tempo de rever os seus caminhos prestem muita atenção nestas “opções”:
Mateus (5, 1 – 10) – Vendo ele as multidões, subiu à montanha. Ao sentar-se, aproximaram-se dele os seus discípulos. E pôs-se a fala e os ensinava, dizendo:
“Felizes os pobres em espírito, porque deles  é o Reino dos Céus.
Felizes os mansos porque herdarão a terra.
Felizes os aflitos porque serão consolados.
Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Felizes os misericordiosos, porque alcançaram misericórdia.
Felizes os puros de coração, porque verão a Deus.
Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.
Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.

Segundo este texto do Evangelista Mateus, não ha porque se preocupem, nosso Justíssimo Deus da aos desejos segundo os seus desejos, e em suas próprias “profecias” estão manifestados quais são os seus. Então poderíamos dizer assim: Felizes os desejosos de ouro e de pedras de grande valor, porque é isto que receberam para todo o sempre.

Para finalizar e para ilustrar o que é ser, um verdadeiro ou um falso profeta, assistam e avaliem vocês mesmos, basta clicar no link abaixo:


quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O Casamento de Oséias e seu valor simbólico 1-2, 1-45



“Porque é amor que eu quero e não sacrifício, conhecimento de Deus mais do que holocaustos.” Oséias (6, 6).

Um dos meus profetas favoritos, homem de palavras duras e direcionadas às diversas formas de opressão, política, social e religiosas. No papel de um verdadeiro profeta, Oséias criticou e mostrou o futuro dos transgressores corruptos e escravagistas de seu tempo.
Dono de uma literatura com aparente desordem, houveram tentativas de ordená-los mas,  sem sucesso, mesmo assim o valor de seu conteúdo permanece vivo e latente em nossa realidade até os dias de hoje. Por causa desta aparente desordem, a fim de não antecipar o desfeche, e acredito que assim nossa reflexão será mais frutífera, deliberadamente alterei a ordem do capitulo (2, 1 – 3) e o coloquei , sem alterar o seu conteúdo, depois do versículo 25.
Poucos falaram do amor de Deus pela humanidade como este profeta, por isso quando o assunto é este amor, a minha fonte predileta, no Antigo Testamento é este profeta que, não trata o adultério com a pena de apedrejamento até a morte, ele trata esta questão com a Misericórdia que somente pode brotar do Amor de Deus pela humanidade.
Na introdução de seu livro, Oséias se utilizando de uma criativa simbologia que se desenrola entre o relacionamento marido e uma infiel esposa, este profeta de uma forma magistral nos apresenta a grandeza da misericórdia e também a pedagogia divina, mostrando que, por mais que “pisemos na bola” nossos caminhos nos levaram de volta aos braços abertos de nosso amado Deus.
Este profeta deveria ser a inspiração para os ecologistas de plantão, aqui se encontra um resgate, amplo e geral da humanidade com a natureza. Entre as profecias diversas de Oséias estão algumas do tipo, não serem mais necessárias as armas e consequentemente as guerras, e o resgate entre a humanidade e a natureza será eterno e completo.
Para não alongar muito o texto, vou citar algumas partes de sua introdução, que acredito não iram afetar o seu conteúdo. Para os que preferirem eu recomendo a leitura deste sagrado livro na integra.

Casamento de Oséias e seu valor simbólico.

Casamento e filhos de Oséias (1, 2 – 5).
Começo das palavras do Senhor por intermédio de Oséias. Disse o Senhor Deus a Oséias: “Vai, toma para ti uma mulher que se entrega à prostituição e filhos da prostituição, porque a terra se prostituiu constantemente, afastando-se de Deus”.
Ele foi e tomou Gômer, filha de Deblaim, que concebeu e lhe gerou um filho. E o Senhor lhe disse: “Dá-lhe o nome de Jezrael (Jizreel), porque ainda um pouco de tempo e eu castigarei a casa de Jeú pelo sangue de Jezrael e destruirei o reinado da casa de Israel. E acontecerá, naquele dia: eu quebrarei o arco de Israel no vale de Jezrael”.

 (1, 6 – 9)
Ela concebeu novamente e deu à luz uma menina. O Senhor lhe disse: “Dá-lhe o nome de Lo-Ruhamah (Lo-Ruama), porque doravante não mais terei piedade da casa de Israel, para ainda lhe perdoar. Mas terei piedade da casa de Judá e os salvarei pelo Senhor, seu Deus. Não os salvarei nem pelo arco, nem pela espada, nem pela guerra, nem pelos cavalos, nem pelos cavaleiros.
Ela deixou de amamentar Lo-Ruhamah, depois engravidou e deu a luz um filho. O Senhor  disse: “Dá-lhe o nome de Lo-Ammi (Lo-Ami), porque não sois o meu povo, e eu não existo para vós”.

Deus e sua esposa infiel (2, 4 – 25).
Processai vossa mãe, processai.
Porque ela não é minha esposa, e eu não sou seu esposo.
Que ela afaste do seu rosto as suas prostituições e de entre os seios seus adultérios.
Senão eu a despirei completamente, deixá-la-ei como no dia de seu nascimento, torná-la-ei  semelhante a um deserto, transformá-la-ei numa terra seca, fá-la-ei morrer de sede.
Não amarei seus filhos, porque são filhos da prostituição.
Sim, sua mãe se prostituiu, cobriu-se de vergonha aquela que os concebeu, quando dizia: Quero correr atrás de meus amantes, daqueles que me dão o meu pão e a minha água, a minha lã e o meu linho, o meu óleo e a minha bebida.
Por isso cercarei o seu caminho com espinhos e o fecharei com uma barreira, para que não encontre suas sendas.
Perseguirá seus amantes, sem os alcançar, procurá-los-á, mas não os encontrará.
Dirá então: Quero voltar ao meu primeiro marido, pois era outrora mais feliz do que agora.
Mas ela não reconheceu que era eu quem lhe dava o trigo, o mosto e o óleo, quem lhe multiplicava a prata e o ouro que eles usavam para Baal!
Por isso retomarei o meu trigo a seu tempo e o meu mosto na sua estação, retirarei a minha lã e o meu linho, que deviam cobrir a sua nudez.
Agora descobrirei sua vergonha aos olhos dos seus amantes, e ninguém a livrará de minha mão.
Acabarei com sua alegria, com suas festas, suas luas novas, e seus sábados e com todas suas assembléias solenes.
Devastarei sua vinha e sua figueira, das quais dizia: Este é o pagamento que me deram os meus amantes.
Farei delas um matagal, e os animais selvagens as devorarão.
Eu a castigarei pelos dias dos baais, aos quais queimava incenso.
Enfeitava-se com seu anel e seu calor e corria atrás de seus amantes, mas de mim ela se esquecia!
Oráculo do Senhor.
Por isso, eis que, eu mesmo a seduzirei, conduzi-la-ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração.
Dali lhe restituirei suas vinhas, e o vale de Acor será uma porta de esperança.
Ali ela responderá como nos dias da sua juventude, como no dia em que subiu da terra do Egito.
Acontecerá, naquele dia, - oráculo do Senhor – que me chamarás “Meu marido”, e não mais me chamarás “Meu Baal”.
Afastarei de seus lábios os nomes dos baais, para que não sejam mais lembrados por seus nomes.
Farei em favor deles, naquele dia, um pacto com os animais do campo, com as aves do céu e com os répteis da terra.
Exterminarei da face da terra o arco, a espada e a guerra; fá-los-ei repousar em segurança.
Eu te desposarei a mim para sempre, eu te desposarei a mim na justiça e no direito, no amor e na ternura.
Eu te desposarei a mim na fidelidade e conheceras a Deus.
Naquele dia, eu responderei – oráculo do Senhor – eu responderei ao céu e ele responderá a terra.
A terra responderá ao trigo, ao mosto e ao óleo e eles responderão a Jazrael.
Eu a semearei para mim na terra, amarei a Lo-Ruhamah e direi a Lo-Ammi: “Tu és meu povo”, e ele dirá: “Meu Deus”.

Perspectivas de futuro (2, 1 – 3).
O número dos israelitas será como a areia do mar que não se pode medir nem contar; no mesmo lugar onde se lhes dizia: “Não sois meu povo”, se lhes dirá: “Filhos do Deus vivo”.  Os filhos de Judá e os israelitas se reunirão, constituirão para si um único chefe e se levantarão da terra, porque será grande o dia de Jezrael. Dizei aos vossos irmãos: “Meu povo”, e às vossas irmãs: “Amada”.

No início do texto (1, 2 - 5), nem tudo está perdido, do meio do caos, da infidelidade e da corrupção nasce a esperança (Jezrael), um lindo e iluminado primogênito filho de uma meretriz, nos mostrando que o Espírito de Deus sopra, ilumina e semeia, onde e quando menos se espera. Quanto ao fato de ter que ser com uma prostituta, não havia outra saída, pois “...toda a terra se prostituiu (1, 2)”, ou se afastou da Justiça. E é nesta terra que agora Deus está semeando (significado do nome Jezrael: “Deus semeia”.
Estas palavras: “Não os salvarei nem pelo arco, nem pela espada, nem pela guerra...(1, 7)” e “não sois mais o meu povo, e eu não existo para vós (1, 9)”, São palavras muito duras contra a infidelidade deste povo junto a Deus, estas duas frases estão ligadas aos nomes destes dois últimos filhos de Oséias com Gômer, aqui estão quebras todas as alianças de Deus com Israel, reduzindo-a ao mesmo nível das outras nações que cultuam outros deuses.
O texto 2, 4 - 15, aqui o marido já deixa de ser Oséias e passa a ser o próprio Deus e Gômer está representada pelos infiéis, e tudo que se segue é uma sucessão vergonhosa de acontecimentos que nos mostram o que se obtém dos caminhos tortuosos, da injustiça, da corrupção e da infidelidade. Não é um castigo e sim conseqüências destas atitudes, da tendência que temos ao desumano.
A partir de 2, 16 – 25 vem um verdadeiro resgate de luz, de amor e que nos enche de esperança de dias melhores. Primeiro vem o deserto – local onde as leis e as regras não alcançam – e Deus nos falará ao coração; depois vem um novo Éden, um verdadeiro resgate com a natureza e seus elementos; em seguida a face de Deus nos será desvelada; e junto a tudo isso as tribos se reuniram novamente e constituíram um único chefe, uma única verdade onde não haverá necessidade de bandeiras e nem de demarcações de divisas. Será uma terra de amor e de verdade, de justiça e de compaixão e teremos então a conclusão do Éden, seremos a semelhança de Deus e então o Sétimo dia.
Isto tudo compõe uma verdadeira pedagógica do amor, valorosos ensinamentos que mostram o efeito dos caminhos que não devem ser trilhados, o da injustiça e o da corrupção. É errado imaginar que Deus nos castiga, nós mesmos somos responsáveis pela realidade que nos cerca, como quando uma pedrinha cai sobre a água e gera uma onda que vai em todas as direções, tudo que fazemos aqui reflete no universo todo, para o bem ou para o mal, o problema é que somos tão cegos quanto a pedra que cai, e como pedras não enxergamos as consequencias de nosso atos, sejam eles grandes ou pequenos, sejam eles bons ou maus.
Muitos de nós assistimos filmes com maquinas do tempo, personagens que voltam para o passado e alteram alguma coisa e por menor que seja, está alteração, ela causa um cataclismo no futuro. Pois bem, somos capazes de entender esta simples idéia, então por que passamos vistas grossas à corrupção e todas as suas diferentes formatações, seja ela: política, religiosa, ou social.
Oséias não nos propõe o uso de armas e nem da força. Ex: Que força Hitler ou Stalin teriam sem o povo. Sem apoio eles teriam passado desapercebidos na história, talvez na lembrança de um tataraneto de um deles, eles fossem lembrados como lunáticos. Talvez a fonte desta loucura tenha sido a falsa sensação de poder que eles tinham, e assim novamente a culpa recai também em nós a “Israel infiel”.
Temos que entender nosso compromisso e a sua real dimensão, no final das contas e irremediavelmente, a injustiça que afeta o meu próximo hoje, me ameaça no dia de amanhã. Quantas vezes tivemos que errar, ou deixar nossos filhos errarem para aprender alguma lição de valor em nossas vidas, isso se chama pedagogia e infelizmente é assim que caminha a humanidade. Quantas vezes teremos que errar para aprender?
Oséias quer nos mostrar um verdadeiro salto qualitativo no conhecimento de Deus, este profeta quer nos antecipar um conhecimento renovado de um Deus de amor, muito diferente da imagem que se fazia deste mesmo Deus em sua época. Este profeta nos apresenta a pedagogia divina em conjunto com o livre arbítrio. Ele nos mostra que, não importa quantas vezes sejam necessárias a humanidade trilhar caminhos que não levam a nada, o Espírito Santo sempre nos trará de volta ao seio do Pai.
A própria natureza anseia por este dia, que ainda não chegou mas, certo como o sol nascerá amanhã, esta irrestrita redenção recairá sobre todos nós, passado, presente e futuro. Cabe a nós, sempre coube a nós.


Quadro: Carlos Araujo - "Jesus vem" Bíblia - Citações"